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Confissões

Santo Agostinho

Capítulo

Capitulum
Livro Décimo Primeiro Cap.21

CAPÍTULO XXI

A medida do tempo

Disse há pouco que medimos o tempo que passa; de modo que podemos afirmar que um lapso de tempo é o dobro de outro, ou igual, e apontar entre os intervalos de tempo outras relações, mediante esse processo comparativo. Portanto, como eu dizia, medimos o tempo no momento em que passa. E se me perguntarem: Como o sabes? – eu responderia: Sei porque o medimos, e porque é impossível medir o que não existe; ora, o passado e o futuro não existem. Quanto ao presente, como podemos medi-lo, se não tem duração? Portanto, só podemos medi-lo enquanto passa; e quando passou, não o medimos mais, porque não há mais nada a mentir.

Mas de onde se origina, por onde passa, para onde vai o tempo quando o medimos? De onde vem senão do futuro? Por onde passa, senão pelo presente? Para onde vai senão para o passado? Nasce pois do que ainda não existe, atravessa o que não tem duração, e corre para o que não existe mais. No entanto, o que é que medimos, senão o tempo relacionado ao espaço? Quando dizemos de um tempo que é simples, duplo, ou triplo, ou igual, ou quando formulamos qualquer outra relação dessa espécie, nada mais fazemos do que medir espaços de tempo. Em que espaço medimos então o tempo no momento em que passa? No futuro, talvez, donde procede? Mas o que ainda não existe não pode ser medido. Será no presente, por onde ele passa? Mas, como medir o que não tem extensão? Será no passado, para onde caminha? Mas o que não existe mais escapa à qualquer medida.