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Confissões

Santo Agostinho

Capítulo

Capitulum
Livro Décimo Primeiro Cap.6

CAPÍTULO VI

Como falou Deus?

Mas, como falaste? Porventura do mesmo modo como aquela voz que, saindo da nuvem, disse: Este é meu Filho bem-amado? – Essa voz fez-se ouvir, e passou; teve começo e fim; suas sílabas ressoaram, depois passaram, em sucessão ordenada até a última, que vem depois de todas as outras – e depois foi o silêncio. Por onde se vê claramente que essa voz foi gerada por órgão temporal de uma criatura a serviço de tua vontade eterna. E essas palavras, pronunciadas no tempo, foram comunicadas pelo ouvido material à inteligência, cujo ouvido interior está atento à tua palavra eterna. E a razão comparou essas palavras, proferidas no tempo, com o silêncio de teu Verbo eterno, e disse: "È diferente, muito diferente. Tais palavras estão bem abaixo de mim, nem sequer existem, pois fogem e passam; mas o Verbo de Deus permanece sobre mim eternamente".

Se foi portanto com estas palavras sonoras e passageiras que ordenaste: Que se façam o céu e a terra! – se foi assim que os criaste, conclui-se que já havia, antes do céu e da terra, uma criatura temporal, cujos movimentos puderam fazer vibrar essa voz no tempo. Ora, não havia corpo algum antes do céu e da terra; ou se algum existia, tu certamente já o tinhas criado não por meio de uma voz passageira, justamente para que pudesse soar essa voz passageira para dizer: "Façam-se o céu e a terra!" E fosse o que fosse o ser de onde saísse tal voz, não teria existido se não o tivesses criado. Mas para criar esse corpo, necessário à emissão destas palavras, de que palavra e serviste?