Não me lembro bem o que respondi a tais palavras. Mas cerca de cinco dias mais tarde, ou pouco mais, caiu de cama, com febre. Durante a doença, teve um dia um desmaio, ficando por pouco tempo sem sentidos e sem reconhecer os presentes. Acudimos de imediato, e logo voltou a si. Vendo-nos a seu lado, a mim e a meu irmão (chamava-se Navígio, e era o mais velho dos irmãos), perguntou-nos, como quem procura algo: "Onde estava eu?" – Depois, vendo-nos atônitos de tristeza, nos disse: "Sepultareis aqui a vossa mãe" – Eu me calava, retendo as lágrimas, mas meu irmão disse umas palavras em que desejava vê-la morrer na pátria e não em terras distantes. Ao ouvi-lo, minha mãe repreendeu-o com o olhar, e aflita por ter pensado em tais coisas; depois, olhando para mim, disse: "Vê o que ele diz" – E depois para ambos: "Sepultem este corpo em qualquer lugar, e não se preocupem mais com ele. Peço apenas que se lembrem de mim diante do altar do Senhor, onde quer que estejam". E tendo-nos exposto seu pensamento com as palavras que pôde, calou-se; sua moléstia agravou-se e suas dores aumentaram.
Mas eu, ó Deus invisível, meditando nos dons que infundes no coração de teus fiéis, e nas admiráveis colheitas que deles brotam, alegrava-me e te dava graças. Lembrava-me do grande cuidado que sempre demonstrara acerca de sua sepultura, adquirida e preparada junto ao corpo do marido. Tendo vivido com ele na maior concórdia, assim também queria – visão própria da alma humana incapaz das coisas divinas – ter a felicidade de que os homens recordassem que, depois de sua viagem para além-mar, lhe fora concedida a graça de a mesma terra cobrir o pó de ambos os cônjuges.
Quando esta vaidade havia deixado de existir em seu coração, pela plenitude de tua bondade, eu não o sabia, mas alegrava-me com admiração ao ouvi-la falar assim. No entanto, naquela conversa à janela quando me disse: "Que faço eu aqui?" – já estava patente que não mais desejava morrer na pátria.
Soube também depois que em Óstia, estando eu ausente, falou certo dia com alguns amigos meus, com maternal confiança, sobre o desprezo desta vida e o benefício da morte. Eles, maravilhados da coragem dessa mulher – dádiva tua – perguntaram-lhe se não temia deixar o corpo tão longe da pátria. "Nada está longe para Deus – disse ela – nem preciso temer que ele ignore, no fim dos tempos, o lugar onde me ressuscitará".
Por fim, nove dias após cair enferma, aos cinqüenta e seis anos de idade e aos trinta e três da minha, aquela alma santa e piedosa libertou-se do corpo.