Em seguida, devemos tratar da reiteração deste sacramento. Sobre o que duas questões se discutem:
O primeiro discute-se assim. ─ Parece que este sacramento não deve ser reiterado.
1. ─ Pois, mais nobre é a unção feita a uma pessoa que a uma pedra. Ora, não se reitera a unção do altar senão se esse altar for partido. Logo, também não deve ser reiterada a extrema unção feita a uma pessoa.
2. Demais. ─ Além de um extremo nada mais há. Ora, esta é a chamada extrema unção. Logo, não deve ser reiterada. Mas, em contrário. ─ Este sacramento é uma medicação espiritual feita a modo de medicação corporal. Ora, a medicação do corpo é susceptível de ser reiterada. Logo, também este sacramento pode ser reiterado.
SOLUÇÃO. ─ Nenhum sacramento ou sacramental de efeito perpétuo pode ser reiterado; pois, o contrário significaria que o sacramento não teria eficácia para produzir tal efeito, e a reiteração seria irreverência para com ele. Mas, sacramento sem efeito perpétuo pode, sem irreverência, ser reiterado, de modo que a reiteração realize o efeito não chegado a termo. E como a saúde do corpo e da alma, que é o efeito deste sacramento, pode ser perdida, depois de obtida como efeito dele, por isso este sacramento pode, sem irreverência, ser reiterado.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ A unção da pedra se faz para a consagração mesma do altar, e a pedra a conserva perpetuamente enquanto o altar dura; por isso não pode ser reiterada. Ao passo que esta unção não se faz para consagrar a pessoa ungida, pois, não imprime caráter. Logo, o símile não colhe.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ O que na apreciação nossa é um extremo pode não sê-lo na realidade das causas. Assim, este sacramento se chama extrema unção, porque não deve ser ministrado senão àqueles cuja morte julgamos próxima.
O segundo discute-se assim. ─ Parece que não deve ser reiterado na mesma enfermidade.
1. ─ Pois, a cada doença se lhe aplica o seu remédio. Ora, este sacramento é um remédio espiritual. Logo, não deve ser aplicado mais de uma vez à mesma doença.
2. Demais. ─ Se esta unção pudesse reiterar-se na mesma doença, um enfermo poderia ser ungido todo o dia. O que é absurdo. Mas, em contrário, às vezes uma doença se prolonga muito, depois de ter sido o sacramento recebido: e assim podem-se contrair novas relíquias de pecado, contra as quais principalmente és te sacramento é conferido. Logo, deve ser repetida a unção.
SOLUÇÃO. ─ Este sacramento não concerne tanto à doença como ao estado de doença; pois, não deve ser conferido senão aos enfermos que julgamos próximos de morrer. Ora, certas doenças não são prolongadas. Por onde, se se ministra este sacramento só quando o doente se acha em perigo de morte, não sairá ele desse estado senão depois de curado e então de novo não deve ser ungido. Mas, se sofrer recidiva, já será outra doença e poder-se-lhe-à então fazer outra unção. Há porém certas doenças prolongadas, como a héctica, a hidropsia e semelhantes. E tais doentes não devem ser ungidos senão quando se julgar que correm perigo de morte. E se escapar a esse perigo, na duração da mesma enfermidade, mas vindo depois, ainda durante ela, a correr de novo tal perigo, poderá ser ungido de novo, pois já é por assim dizer outra doença, embora, absolutamente falando seja a mesma. Donde se deduzem as RESPOSTAS ÀS OBJEÇÕES. O Sacramento da ordem