Em seguida devemos tratar do tempo e do modo da ressurreição. E nesta questão discutem-se quatro artigos:
O primeiro discute-se assim. ─ Parece que o tempo da ressurreição não deve ser diferido até ao fim do mundo, para todos ressurgirem simultaneamente.
1. ─ Pois, maior é a conveniência entre a cabeça e os membros que dos membros entre si; como também maior é a conveniência entre a causa e o efeito que a dos efeitos entre si. Ora, Cristo, que é a nossa cabeça, não diferiu a sua ressurreição até ao fim do mundo para que ressurgisse juntamente com todos. Logo, não é forçoso que a ressurreição dos santos primitivos seja diferida até ao fim do mundo, a fim de ressurgirem junto com todos os mais.
2. Demais. ─ A ressurreição da cabeça é a causa da ressurreição dos membros. Ora, a ressurreição de certos membros mais nobres, por causa da sua vizinhança com a cabeça, não foi dilatada até ao fim do mundo, mas se seguiu logo à ressurreição de Cristo. Assim, como piamente se crê, a da SS. Virgem e a de João Evangelista. Portanto, também a ressurreição dos demais tanto estará mais próxima à de Cristo quanto mais lhe foram conformes pela graça e pelo mérito.
3. Demais. ─ O estado do homem é mais perfeito e mais conforme à imagem de Cristo no Novo que no Velho Testamento. Ora, certos Patriarcas do Testamento Velho ressurgiram depois da ressurreição de Cristo, segundo aquilo do Evangelho: Muitos corpos de santos, que eram mortos, ressurgiram. Logo, parece que nem a ressurreição dos santos do Novo Testamento deve ser diferida até o fim do mundo, para ressurgirem com os demais.
4. Demais. ─ Depois do fim do mundo não haverá mais contagem de anos. Ora, a Escritura conta ainda muitos anos desde a ressurreição de vários mortos até a ressurreição dos outros. Assim, diz num passo: Vi as almas dos decapitados pelo testemunho de Jesus e pela palavra de Deus. E mais adiante: E viveram e reinaram com Cristo mil anos; e os outros mortos não tornaram à vida até que sejam contados mil anos. Logo, a ressurreição de todos não será diferida até o fim do mundo, para todos ressurgirem simultaneamente. Mas, em contrário, a Escritura: O homem, quando dormir, não ressurgirá, a menos que o céu não seja consumido, não se levantará nem despertará do seu sono; e se refere ao sono da morte. Logo, até o fim do mundo, quando o céu for consumido, será diferida a ressurreição dos homens.
2. Demais. ─ O Apóstolo diz: Todos estes provados pelo testemunho da fé não receberam a recompensa prometida, i. é, a plena beatitude da alma e do corpo; tendo disposto Deus alguma causa melhor a nosso favor, para que eles, sem nós, não fossem consumados, i. é, aperfeiçoados; para que a glória de cada um se tornasse maior com a glória de todos. Ora, a ressurreição não será antes da glorificação dos corpos; porque Cristo reformará o nosso corpo abatido para o fazer conforme ao seu corpo glorioso; e os filhos da ressurreição serão como os anjos no céu. Logo, a ressurreição será diferida até o fim do mundo, quando todos ressurgirão ao mesmo tempo.
SOLUÇÃO. ─ Como diz Agostinho, a divina providência estatuiu que os corpos mais grosseiros e inferiores fossem governados numa certa ordem pelos mais subtis e potentes. Por isso toda a matéria dos corpos inferiores depende da variação do movimento dos corpos celestes. Seria, pois, contra a ordem, que a divina providência estabeleceu para o universo, se a matéria dos corpos inferiores caísse num estado de incorrupção, enquanto permanecesse o movimento dos corpos superiores. E como, segundo os ensinamentos da fé, a ressurreição será para uma vida imortal semelhante à de Cristo, que tendo ressurgido dos mortos já não morre, na frase do Apóstolo, por isso a ressurreição dos corpos humanos será dilatada até o fim do mundo, quando cessará o movimento do céu. E por isso também certos filósofos, ensinando que o movimento dos céus não cessará nunca, ensinaram também a volta das almas humanas a corpos mortais, como os nossos. Uns, como Empédocles, eram de opinião que as almas voltarão a se unirem aos mesmos corpos, no fim do grande ano; a corpos diferentes, outros, como Pitágoras, para quem qualquer alma pode unir-se a qualquer corpo, como refere Aristóteles.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Embora a cabeça mais convenha com os membros ─ do que os membros entre si ─ por uma conveniência de proporção, necessária para poder influir neles, contudo exerce a cabeça uma certa causalidade sobre os membros, de que estes carecem; e por isso diferem eles da cabeça e convêm entre si. Por onde, a ressurreição de Cristo é o exemplar da nossa; e é na fé dessa ressurreição que se funda a esperança de também ressurgirmos. Mas, a ressurreição de qualquer dos membros de Cristo não é a causa da ressurreição dos outros membros. Por isso a ressurreição de Cristo devia preceder a ressurreição dos demais, que todos deverão simultaneamente ressurgir na consumação dos séculos.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Embora dentre os membros uns sejam mais dignos que os outros e mais conformes à cabeça, não vão porém até exercer a função de cabeça de modo a serem a causa dos outros. Por onde, pelo fato de serem mais conformes a Cristo não lhes é devido que a sua ressurreição preceda à dos outros, como o exemplar precede o exemplado, segundo dissemos da ressurreição de Cristo. E se a certos foi concedido que a sua ressurreição não se dilatasse até a ressurreição universal, foi isso por privilégio de uma graça especial, e não como devido pela conformidade com Cristo.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Jerônimo levanta a seguinte dúvida acerca da ressurreição dos santos com Cristo. Se, depois de terem dado testemunho da ressurreição, de novo morreram, de modo que a ressurreição deles foi, antes, como a de Lázaro, que de novo morreu, do que a verdadeira, que se dará no fim do mundo; ou se verdadeiramente ressurgiram para uma vida imortal, de que o corpo participasse, subindo corporalmente ao céu com Cristo, como diz a Glosa. E isto parece mais provável. Porque, para darem testemunho da verdadeira ressurreição de Cristo, era conveniente que verdadeiramente ressurgissem, como diz Jerônimo no mesmo lugar. Nem por causa deles é que a ressurreição se lhes apressou, mas para testificarem a de Cristo; testemunho esse necessário para fundar a fé do Novo Testamento. Por isso mais convenientemente seria dado pelos Padres do Velho Testamento do que pelos mortos depois da fundação do Novo. Contudo, não devemos esquecer que embora o Evangelho lhes mencione a ressurreição, antes da de Cristo, todavia, como o demonstra o texto, devemos entender que o faz por antecipação, como frequentemente o fazem os hagiógrafos. Pois ninguém ressuscitou verdadeiramente antes da ressurreição de Cristo; porque Cristo é as primícias dos que dormem, na frase do Apóstolo. Embora certos, como Lázaro, ressuscitassem antes da ressurreição de Cristo.
RESPOSTA À QUARTA. ─ Como refere Agostinho, as palavras citadas deram ocasião a certos heréticos de ensinar que os mortos ressuscitariam, na primeira ressurreição, para reinarem mil anos na terra com Cristo. Donde o serem chamados Quiliastas ou Milenários. Por isso Agostinho, no mesmo lugar, que o lugar citado deve, noutro sentido, ser entendido da ressurreição espiritual, pela qual os homens ressurgem dos pecados, ajudados do dom da graça. E quanto à segunda ressurreição, será a dos corpos. ─ Além disso, o que se entende pelo reino de Cristo é a Igreja, na qual reinam com Cristo não só os mártires, mas também os outros eleitos, entendendo-se pela parte o todo. Ou todos reinam com Cristo na glória; fazendo-se menção especial dos mártires, porque sobretudo aqueles reinam mortos, que até a morte combateram pela verdade. Quanto ao número milenário de anos, não designa nenhum número certo, mas todo o decurso do tempo atual, em que os santos reinam com Cristo. Porque o número milenário, mais que o centenário, designa a universalidade; porque o número cem é o quadrado de dez, ao passo que mil é um cubo resultante de uma dupla multiplicação de dez por si mesmo, pois, dez vezes dez são cem e cem vezes dez são mil. E nesse sentido é aquele lugar da Escritura: Da palavra que enviou para mil gerações, i. é, para todas.
O segundo discute-se assim. ─ Parece que esse tempo não é oculto.
1. ─ Pois, daquilo cujo princípio é determinadamente conhecido podemos também conhecer determinadamente o fim; porque tudo se mede por um certo período, na expressão de Aristóteles. Ora, conhecemos determinadamente o princípio do mundo. Logo, também lhe podemos conhecer determinadamente o fim. Pois, será então o tempo da ressurreição e do juízo. Portanto, esse tempo não será oculto.
2. Demais. ─ A Escritura diz que a mulher, símbolo da Igreja, tem um retiro, que Deus lhe preparou, para nele sustentar-se por mil duzentos e sessenta dias. E Daniel também conta um número determinado de dias, que parece significarem anos, segundo aquele passo: Um dia que eu te dei por cada ano. Logo, pela leitura da Sagrada Escritura podemos saber com precisão o tempo do fim do mundo e da ressurreição.
3. Demais. ─ A duração do Testamento Novo foi prefigurada no Velho. Ora, sabemos com precisão o tempo que durou o Testamento Velho. Logo, com a mesma precisão podemos saber o tempo que há de durar o Novo. Ora, Novo há de durar até o fim do mundo; donde dizer o Evangelho: Estai certos de que eu estou convosco até a consumação do século. Portanto, podemos saber com certeza o tempo do fim do mundo e da ressurreição. Mas, em contrário. ─ O que os anjos ignoram há de com maioria de razão ser oculto aos homens. Pois, aquilo que os homens podem alcançar com a razão natural muito mais clara e certamente podem saber os anjos com o seu conhecimento natural. Além disso, revelações não se fazem aos homens senão mediante os anjos, como está claro em Dionísio. Ora, os anjos não conhecem o tempo exato do fim do mundo, conforme àquilo do Evangelho: De aquele dia nem de aquela hora ninguém sabe, nem os anjos do céu. Logo, esse tempo será oculto aos homens.
2. Demais. ─ Os Apóstolos conheceram melhor os segredos de Deus, que os homens que lhes sucederam. Pois, como diz o Apóstolo, eles tiveram as primícias do espírito. O que a Glosa explica: Mais cedo no tempo e mais abundantemente que os outros homens. Ora, o Senhor lhes respondeu, quando lhe perguntavam sobre o fim do mundo: Não é da vossa conta saber os tempos nem momentos que o Pai reservou ao seu poder. Logo e com maior razão, tal tempo será oculto aos outros homens.
SOLUÇÃO. ─ Como ensina Agostinho, os últimos tempos do gênero humano, que medeiam entre o advento do Senhor, e o fim do século, é incerta quantas gerações abrangerá; do mesmo modo que a velhice, última idade do homem, não tem tempo determinado, medido segundo os outros períodos da vida, pois pode abranger ela só tanto tempo quanto todas as outras idades juntas. E a razão disso é que o tempo exato das idades futuras não no podemos saber senão pela revelação ou pela razão natural. Ora, o tempo que decorrerá até a ressurreição não pode ser computado pela razão natural. Porque a ressurreição e a cessação do movimento do céu se darão simultaneamente, como dissemos. Ora, do movimento deriva o número de todos os acontecimentos futuros susceptíveis de serem previstos pela razão natural como havendo de suceder-se num tempo determinado. Pelo movimento do céu porém não lhe podemos prever o fim; porque, sendo circular, pode pela sua natureza mesma durar perpetuamente. Por onde, não podemos, pela razão natural, fazer o computo do tempo que decorrerá até a ressurreição. Nem o podemos saber pela revelação; e Deus assim o quis para estarmos sempre prontos e preparados para a vinda de Cristo. Por isso, aos próprios Apóstolos, que lh'o perguntavam, Cristo lhes respondeu: Não é da vossa conta saber os tempos nem os momentos que o Pai reservou ao seu poder. Ao que diz Agostinho: Essas palavras impõem silêncio aos temerários, que contam como nos dedos os anos que nos separam do fim do mundo. Ora, o que Cristo não quis revelar aos Apóstolos, que lh'o inquiriam, também não revelará aos mais. Por isso todos os que pretenderam fazer o computo desses tempos a experiência até agora os convenceu de falsiloquos. Assim, como o refere Agostinho no mesmo lugar, certos calcularam que poderiam completar-se quatrocentos anos desde a ascensão do Senhor até ao seu último advento; outros quinhentos; outros mil. E é patente o erro de todos. Sê-lo-á também o de todos os que ainda persistem nesse computo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Daquilo de que sabemos o fim por um princípio conhecido, também havemos por força de lhe conhecer a medida. Por onde, conhecido o princípio de um fenômeno cuja duração se mede pelo movimento do céu, podemos lhe conhecer o fim, porque o movimento do céu nos é conhecido. Mas a medida da duração do movimento do céu é somente a disposição divina, que nos é oculta. Portanto, por mais que lhe conheçamos o princípio, não lhe podemos saber o fim.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Os mil duzentos e sessenta dias, mencionados pela Escritura, significam o tempo total da duração da Igreja, sem determinação de nenhum número de anos. E isto porque a predicação de Cristo, sobre a qual, está fundada a Igreja, durou três anos e meio, tempo quase igual ao número de dias dado pelo profeta. Semelhantemente, o número de dias dado por Daniel não se refere a nenhum número determinado de anos que hão de decorrer até o fim do mundo, ou até a pregação do anticristo; mas deve referir-se ao tempo durante o qual pregará o anticristo e que durará a sua perseguição.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ Embora o estado do Novo Testamento fosse prefigurado em geral pelo estado do Velho, não é forçoso porém que todas as particularidades de um e de outro entre si se correspondam. Sobretudo que em Cristo se completaram todas as figuras do Velho Testamento. Por isso Agostinho, respondendo a certos, que queriam deduzir do número das pragas do Egito e das perseguições que a Igreja sofreu e há de sofrer, diz: Quanto a mim, não penso que as pragas sofridas no Egito signifiquem profeticamente as perseguições que deve padecer a Igreja. Sem dúvida os de opinião contrária descobrem, com rebuscadas e engenhosas comparações, correspondências entre os fatos, num e noutro caso. Mas não há aí nenhum espírito profético, senão simples conjecturas da mente humana, umas vezes verdadeiras, falsas outras. ─ E do mesmo modo devemos julgar as predições do Abade Joaquim, que por meio de tais conjecturas, fez certas predições, verdadeiras umas e outras falsas.
O terceiro discute-se assim. ─ Parece que a ressurreição não será durante a noite.
1. ─ Porque não haverá ressurreição, a menos que o céu não seja consumido, como diz a Escritura. Ora, cessado o movimento do céu, que é ser consumido, não haverá mais tempo, nem noite, nem dia. Logo, a ressurreição não terá lugar de noite.
2. Demais. ─ O fim é o que de mais perfeito devem ter as cousas. Ora, com a ressurreição terá fim o tempo; por isso diz a Escritura que então não haverá mais tempo. Portanto existirá o tempo na sua perfeição. Logo, haverá dias.
3. Demais. ─ A qualidade do tempo deve ser apropriada ao que nele se faz; por isso o Evangelho refere que Judas se separou de noite da convivência com Cristo, luz eterna. Ora na ressurreição todas as cousas agora ocultas terão a sua completa manifestação; porque quando vier o Senhor não só porá às claras o que se acha escondido nas mais profundas trevas, mas descobrirá ainda o que há de mais secreto nos corações, como diz o Apóstolo. Logo, a ressurreição deverá ser de dia. Mas, em contrário. ─ A ressurreição de Cristo é o modelo da nossa. Ora, teve lugar de noite, como diz Gregório. Logo, também de noite será a nossa.
2. Demais. ─ O advento do Senhor é comparado pelo Evangelho à entrada de um ladrão numa casa. Ora, o ladrão penetra nas casas de noite. Logo de noite é que o Senhor virá. Ora, desde que venha terá lugar a ressurreição. Logo, esta se dará de noite.
SOLUÇÃO. ─ A hora exata da ressurreição não pode ser conhecida com certeza como diz o Mestre. Contudo dizem certos com alguma probabilidade que será no crepúsculo da manhã estando o sol no oriente e a lua a ocidente. Pois, é crença que o sol e a lua foram criados nessa disposição; de modo que o seu movimento circular se perfará pela volta completa ao ponto de partida. Por isso se diz que Cristo ressurgiu nessa hora.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ A ressurreição não terá lugar no tempo, mas no termo do tempo; pois, no mesmo instante em que cessar o movimento do céu se dará a ressurreição dos mortos. Entretanto, os astros ocuparão então o mesmo lugar que ocupam através das idades num momento dado. E nesse sentido se diz que a ressurreição se dará em tal hora ou em tal outra.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ O momento mais perfeito do tempo é o do meio dia, por causa da maior intensidade da luz solar. Mas, na ressurreição a cidade de Deus não terá necessidade da luz da lua nem da do sol, porque o Senhor Deus a alumiará. Portanto, sob este aspecto, não importa que a ressurreição seja de dia ou de noite.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ O tempo da ressurreição convém que seja manifesto, quanto às causas que nele se realizarão; e o oculto quanto à sua determinação. Por isso pode muito bem convir que a ressurreição se dê tanto de dia como de noite.
O quarto discute-se assim. ─ Parece que a ressurreição não se dará de súbito, mas sucessivamente.
1. ─ Porque a Escritura prediz a ressurreição dos mortos quando diz: Os ossos se chegaram uns para os outros; e olhei, e eis que vieram sobre os tais ossos nervos e carnes para os revestir e neles foi estendida a pele por cima, mas eles ainda não tinham o espírito. Logo, a restauração dos corpos precederá no tempo a sua união com a alma. Portanto, a ressurreição não se dará de súbito.
2. Demais. ─ O que depende de vários atos sucessivos não pode fazer-se subitamente. Ora, a ressurreição depende dos seguintes atos sucessivos: a reunião das cinzas, a reconstituição do corpo e a infusão da alma. Logo, não poderá fazer-se subitamente.
3. Demais. ─ Todo som se mede pelo tempo. Ora, o som da trombeta será a causa da ressurreição, como se disse. Logo, a ressurreição se realizará num certo tempo e não subitamente.
4. Demais. ─ Nenhum movimento local pode ser súbito, como ensina Aristóteles. Ora, a ressurreição supõe o movimento local necessário à reunião das cinzas. Logo, não se dará subitamente. Mas, em contrário, o Apóstolo: Todos certamente ressuscitaremos num momento, num abrir e fechar de olhos. Logo, a ressurreição será súbita.
2. Demais. ─ Um poder infinito obra subitamente. Ora, Damasceno diz que a ressurreição será um efeito do poder divino, que sabemos ser infinito. Logo, a ressurreição será súbita.
SOLUÇÃO. ─ Para a ressurreição contribuirá em parte o ministério angélico e, em parte, o poder divino, como se disse. Ora, a obra do ministério angélico não será instantâneo, tomando-se o instante como um tempo imperceptível. O poder divino porém obrará subitamente, i. é, ao termo do tempo em que os anjos terminarem a sua obra; porque o poder superior torna perfeita a do inferior.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. ─ Ezequiel, como Moisés, falava a um povo rude. Ora, Moisés dividiu em seis dias a obra da criação, para poder a sua linguagem ser entendida de um povo rude, embora toda ela fosse feita simultaneamente, como ensina Agostinho. Assim também Ezequiel exprimiu como diversas as fases da futura ressurreição, embora todas hajam de realizar-se instantaneamente.
RESPOSTA À SEGUNDA. ─ Embora as operações referidas sejam naturalmente sucessivas umas às outras, são porém temporalmente simultâneas; porque ou se realizam num só instante, ou uma será no instante em que a outra terminar.
RESPOSTA À TERCEIRA. ─ O mesmo se deve dizer desse som, que das formas dos sacramentos; i. é, que o som produzirá o seu efeito no seu último instante.
RESPOSTA À QUARTA. ─ A congregação das cinzas, que não poderá realizar-se sem o movimento local, se fará pelo ministério dos anjos. Por isso se dará num tempo, mas imperceptível, por causa da facilidade de obrar própria dos anjos.